Hoje eu quero falar um pouco sobre mim.
Aos 6 meses, a vida da Carol deu uma virada e a minha virou junto. De tantas coisas que estão acontecendo comigo, tem uma que puxei para esse post. Estou saindo da empresa.
Eu não fui mandada embora. Não fiz acordo. Eu pedi a conta.
E quando eu conto que pedi pra sair, a cara de surpresa de várias pessoas me deixa intrigada. Sei lá por que, parece que quando a gente fala em demissão a maioria das pessoas associam imediatamente ao fazer acordo, sacar FGTS, seguro desemprego. Eu não penso nisso. Em todas as empresas que eu trabalhei, pedi a demissão, porque logicamente eu quis sair. Muitas pessoas praticam mas eu, não concordo com esse negócio de pedir pra ser mandado embora, não soa bem pra mim.
Masssss
O motivo está na cara: Eu quero maternar, em tempo integral. Na verdade, eu preciso disso. Tenho que estar perto da Ana nesses primeiros anos, porque eu sei que ela precisa de mim e porque eu não quero perder nada. Quero vê-la crescer e participar disso com toda a intensidade que eu puder dedicar.
Não foi uma coisa que eu decidi durante a gravidez ou no momento que ela veio para o meu colo pela primeira vez, na maternidade. Isso já estava resolvido desde quando eu era solteira. Quando comecei a namorar o pai dela e conversar sobre casamento (meados de 2007/2008), contei que eu queria fazer dessa forma. E ele concordou. Assim, no dia que descobri que estava grávida, imediatamente pensei que estava no meu 'último' emprego e que uma longa licença maternidade estava para começar em minha vida.
Quando dei a notícia ao meu patrão, também avisei que após a licença e as férias, não voltaria mais. Acho que ele não acreditou. Talvez tenha pensado que eu disse isso no calor do momento, emocionada pela gravidez. A licença chegou e novamente reafirmei minha decisão. E agora a licença acabou. E depois de pedir com insistência para que eu ficasse (o que me deixou lisonjeada, pois eu tive certeza de que fiz um bom trabalho), e argumentar sobre o FGTS, que não poderia fazer acordos, blablablá, meu patrão finalmente entendeu que eu decidi sobre a MINHA licença, de verdade. Cá estou, aguardando o dia de homologar a demissão no sindicato.
Por que estou contando tudo isso?
Eu sei que muitas (e aqui acho que podemos dizer milhares) mães gostariam de fazer o mesmo. Tenho mais é que ser grata a Deus pela possibilidade de poder ficar em casa com a Carol. Participo de vários grupos de mães no Facebook. A situação é a mesma. As mães começam a sofrer com antecipação, só de pensar que daqui a alguns meses terão que deixar os filhos numa creche, ou com outra pessoa. O rendimento no trabalho cai, porque a cabeça e o coração delas estão lá com os seus rebentos, NATURALMENTE. O estresse aumenta. O bebê sente falta, grita, chora desesperado. O tempo passa, e ele se acostuma. Mas a verdade nua e crua, é que ele foi forçado a se acostumar. Sim, forçado a estar num lugar que ele não gostaria. A tomar um leite que não é da sua mãe. Ficar num colo que não tem o mesmo cheiro, o mesmo conforto. Desculpa gente, mas isso não é sensacionalismo meu, é real. E não para por aí, não é só o bebê que chora. Do outro lado, tem muita mãe que vai chorar escondido no banheiro da empresa. E se no trabalho é hora de focar na razão, só resta um lugar pra soltar a emoção. O lar.
Um bebê e uma mãe angustiados, logo o pai, os irmãos e quem mais estiver próximo também vão sentir o peso. É... já pensou como essa separação afeta a família inteira?
Mas e aí, trabalhar é uma necessidade pra muita gente. Nem todas conseguem esticar a licença. E ainda tem muita mulher que nem de licença entra. Milhares de famílias precisam que a mãe ajude a compor a renda. E há outros milhares de famílias que são compostas de mãe e filho. Vai fazer o quê?
Difícil.
Eu penso em dois pontos para tentar explicar essa realidade e que podem apontar para uma solução.
Primeiro, eu acho que falta apoio governamental.
Nosso governo acredita na amamentação exclusiva até os 6 meses. Porém, garante a licença maternidade até os 4 meses. Algumas empresas estendem até os 6 meses (apesar de ser aprovado por lei, a nova licença de 180 dias, para mim não aconteceu) e geralmente as mães conseguem emendar férias. Mesmo assim que paradoxo é esse?
Por lei, a mãe tem o direito de sair do trabalho para amamentar. Mas vamos ser sinceros, quantas mães que trabalham você conhece? Quantas delas conseguem sair para amamentar? Eu mesma não conheci nenhuma, pessoalmente. Uma vez, li num grupo de facebook, o relato de uma mãe que conseguia amamentar porque morava perto de casa e o bebê ficava com a avó. Por fim, esse direito de sair não funciona, pelo menos, não como deveria. A mãe que retorna após 4 meses de licença pode sair duas vezes durante o horário de trabalho para amamentar durante meia hora. Tá. E desde quando meia hora é tempo suficiente para sair do trabalho, amamentar e voltar? E se o bebê quiser mamar mais? Em picos de crescimento, saltos de desenvolvimento ou em qualquer outro fase que deixa o bebê mais sensível, normalmente ele pede mais o peito. Então quer dizer que se der meia hora e o bebê ainda não estiver satisfeito, a mãe terá que deixá-lo? Certamente esse bebê ficará irritado e claro, vai chorar desesperadamente. Por fim, todo o esforço se torna inútil.
Muitas mães estão apoiadas por avós, tias, gente querida e próxima para ajudar e ficar com o bebê. Mas a prática dessa mudança é sempre uma preocupação para as mães, que se transforma em tristeza.
Muitas mães estão apoiadas por avós, tias, gente querida e próxima para ajudar e ficar com o bebê. Mas a prática dessa mudança é sempre uma preocupação para as mães, que se transforma em tristeza.
Nossas leis precisam estar mais ajustadas ao que está acontecendo. Não é simplesmente o crescimento, a alimentação do bebê. A construção emocional do ser humano acontece nos primeiros anos de vida. E a presença intensa e ativa da mãe faz toda a diferença para embasar uma estrutura saudável para essa criança que futuramente, será um adulto bem resolvido nas questões emocionais bem como as racionais. Tudo isso porque uma semente foi lançada e carinhosamente a plantinha foi cuidada, desde o princípio.
Minha opinião? Mães que pretendem retornar ao trabalho deveriam ter o direito de ficar 1 ano em casa, cuidando do bebê. Mas como estou no Brasil, infelizmente é uma utopia dizer uma coisa dessas... Não para as mães que optaram em se "libertar".
Segundo, acho que a mãe que deseja ficar com o filho deveria tomar coragem e sair do sistema.
Com o apoio da família, sempre. E com uma avaliação bem feita.
Nem sempre, voltar ao trabalho significa uma coisa boa. Só que o medo do desemprego, a falta de apoio (mão na massa mesmo) dos familiares faz muitas mães desconsiderarem a possibilidade de cair fora. É preciso por no papel, estudar, fazer um planejamento, para enxergar com clareza a realidade familiar e o encaixe de uma alternativa.
Por exemplo, uma mãe retorna ao trabalho para ganhar R$1.000,00 por mês e terá que pagar uma escolinha para o filho.
Considere os descontos (INSS, vale transporte, refeição) com uma média de R$100,00;
A escolinha do filho, que custará aproximadamente R$400,00 a mensalidade;
Quem irá buscar e levar? Se tiver que colocar numa van escolar, por baixo uns R$130,00;
Gastos com farmácia (fraldas, remédios, algodão, lenços...) R$80,00.
Poderíamos adicionar outros custos (leite artificial - muito usado pela maioria dos bebês que frequentam berçários/creches - vestuário, contas básicas tipo luz, água, telefone, gastos eventuais como uma consulta, um exame, um móvel ou um eletrodoméstico que precisou ser comprado... Mas vamos parar por aqui. É hora de avaliar se vale mesmo sair para trabalhar e viver toda uma situação estressante e sofredora por conta da separação mãe-bebê, para sobrar R$290,00? Pra muita gente não sobra. Falta. Convenhamos, com filho pequeno é muito difícil fazer o dinheiro sobrar. Não que eu esteja desprezando esse valor. Mas para ganhar isso, dá para recorrer a outras opções, então. Sinceramente, eu não acho que valha a pena. E tem muita mulher que já percebeu isso. Mas tem uma outra parte, dominada pelo medo de sair, ou até mesmo pela pressão do marido, da família.
A maternidade sacode a gente. Acho que não existe mãe que não repensa na vida, na carreira. Cria no colo, faz a gente questionar tudo, se vale a pena continuar, se existe uma alternativa, se é hora de tomar outro vôo. Aqui entra a palavra empreendedorismo. Muitas mamães descobrem que podem abrir um negócio para poder ficar perto dos filhos. Isso é possível, sim, sem grande investimentos. E acredite, mães empreendedoras trabalham com mais paixão, do que quando eram empregadas.
Acho que falta reconhecimento. A mulher que gera, faz nascer e amamenta, está criando um novo indivíduo para a sociedade. Isso não pode ser reconhecido como um trabalho? Não é trabalhoso criar um (os) filho(s)? Essa mudança de pensamento tem que começar na educação que vem de casa, passar pela escola e se encaixar nas leis. Tem que estar na consciência e no coração do povo. Aí sim, haverá mais respeito com a função materna.
Acho que falta reconhecimento. A mulher que gera, faz nascer e amamenta, está criando um novo indivíduo para a sociedade. Isso não pode ser reconhecido como um trabalho? Não é trabalhoso criar um (os) filho(s)? Essa mudança de pensamento tem que começar na educação que vem de casa, passar pela escola e se encaixar nas leis. Tem que estar na consciência e no coração do povo. Aí sim, haverá mais respeito com a função materna.
Me senti aliviada desde o 4º mês da Carol, por saber que não precisaria deixá-la. Em setembro, quando tive uma reunião importante para iniciar meu processo de demissão, me senti de missão cumprida e muito feliz pela decisão que tomei. É claro que nos preparamos pra isso, afinal meu salário também participava na manutenção da casa. E conseguimos nos ajustar, graças a Deus,
Confesso uma coisa. No dia da reunião eu me senti estranha, sabia que ia ficar desempregada. Mas cada centavo que eu 'perdi' ao deixar este emprego, se converte num tempo maravilhoso, de valor inestimável que eu tenho com minha filha.
Eu espero que a cada rosto de espanto das pessoas que me dizem "mas você vai ficar em casa mesmo?", eu consiga plantar uma semente de reflexão. Não vejo nada de errado a mãe voltar ao trabalho. Tem muitas que querem isso, tanto como eu quero me dedicar exclusivamente à minha filha. Geralmente, quem mais me questiona sobre voltar ou ficar, são mães também. Parece que essa possibilidade não existe para elas. Será mesmo que é porque não querem ou não podem? Ou será que foram condicionadas a pensar assim? Pais, sociedade que exige muito das mulheres. Carreira no topo, finanças no topo, independência a todo vapor. Mas e os seus sentimentos, onde estão?
Para esses questionamentos, várias repostas. Reflita.
Bem, não serei toda do lar para sempre.
Vou retomar a faculdade trancada e pretendo ser mais uma mãe empreendedora nesse mundão.
E o melhor de pensar sobre tudo isso, é que verei minha Carolzinha crescer.
Sentirei muita saudades desses dias de bebê. Mas vou poder dizer com muita gratidão que eu aproveitei muito, beijei muito, esmaguei muito, vi ela andar, falar, brinquei, cuidei do dodói, ensinei as primeiras liçõezinhas, fiquei perto o tempo todo. Não há emprego melhor, mais recompensador e mais difícil que esse. Meu tempo precioso de ser mãe. ♥
Ana Carolina, 4 meses |
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Assista ao trailer do documentário Com Licença, que aborda a questão Maternidade x Carreira.
Ainda não há previsão de lançamento, pois é preciso de mais patrocínios. Mas esses minutos já valem muito pra gente pensar.
vc esta certa!! também parei de trabalhar fora para fica com meu bb tranquei a Facul para poder me dedicar totalmente a ele quando estiver mais velho volto ,agora trabalho em casa No Feltrinho com Carinho a Page esta no blog ao lado caso queira conhecer, quando crescer creio q este carinho esta atenção que vc da a ela hoje vai se refletir na adulta que ela sera bjs!!
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